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Lizandra Barbuto Terapia Individual e Terapia em Grupo

Colaboração e a autorresponsabilidade de saber até onde ir

Colaboração e a autorresponsabilidade de saber até onde ir

Palavras-chave: Colaboração


O tema “colaboração” é contemporâneo. As pessoas estão finalmente compreendendo que cada uma delas pode ser a chave para o sucesso dos projetos – assim como da existência da própria vida humana no planeta.


Colaboração pode ser uma ideia, uma palavra ou um conceito, todos muito atrativos, porém carrega também muitos desafios. A colaboração exige superar os desejos pessoais para ir além de si mesmo, considerando os outros, estabelecendo limites e se autorresponsabilizando, tanto para se comprometer quanto para não se sobrecarregar em diversos projetos e tarefas.


Desta maneira, a primeira reflexão que trarei será da perspectiva da superação de aspectos egocêntricos. A segunda, dos desafios para não se sobrecarregar para atender a demanda social e cultural contemporânea: a de ser colaborativo.


Flexibilidade para ajustar as diferentes demandas


Como seres humanos, temos uma tendência inata ao egocentrismo e narcisismo. Características do ego, entendendo-o como “ilusão privada que dá ao individuo um sentido de valorização pessoal falso” (BAUDINO, 2017), gerando atitudes que tendem a atender somente as próprias necessidades e a ver o mundo considerando a própria perspectiva (TART, 2000). Em um contexto colaborativo, é preciso: superar essa atitude individualista, ver além dos próprios desejos, ampliar a visão para considerar o contexto, desenvolver a capacidade de adaptação e a flexibilidade.


O primeiro passo para tal é conhecer a si mesmo. Por tantos motivos já discutidos na filosofia, psicologia e até na espiritualidade, quando nos conhecemos, temos clareza sobre quais são as próprias necessidades para saber como satisfazê-las, sendo responsáveis por isso – ou seja, não exigindo que outra pessoa as atenda.


Por exemplo, organizar a própria vida é um fator que demonstra maturidade. Logo, estar com muitas atividades e não cumprir prazos, além de gerar estresse e ansiedade – exacerbando aspectos egóicos –, é uma atitude de pouca responsabilidade consigo mesmo e com a vida.


Autorresponsabilidade


A autorresponsabilidade traz para cada pessoa o poder de evoluir em si mesmo e contribuir para a melhora do contexto em que vive. Consequentemente, exigências e culpabilização devem diminuir. Uma vez que cada pessoa for capaz de se autorresponsabilizar, será possível ver o outro como aliado para a construção conjunta e, mais que isso, como um apoio que contribui para ajudar a ver o que não é possível ver por si próprio devido à tal cegueira egocêntrica. Este conceito trata da incapacidade de ver, pois o foco e percepção são referenciados somente ao que o indivíduo pensa ou sente.


Assim, começar a assumir as próprias responsabilidades em todos os aspectos da vida, contribui para melhores escolhas, percepção dos passos a seguir e relações sociais mais saudáveis que levam à colaboração.


Um ciclo constante


O aprendizado contínuo é outro elemento essencial para a colaboração. Aprender sobre si mesmo e sobre novas técnicas e tecnologias é uma habilidade de sobrevivência em um contexto histórico de mudanças velozes e diversas.


Há ainda a adaptação diretamente conectada ao discernimento, a saber selecionar com sabedoria e consciência, componentes essenciais para a colaboração e para evitar a sobrecarga. Isso porque a capacidade de discernimento conduz à percepção do que pode ser mudado e do que não. Logo, se algo não pode ser alterado mesmo com grandes esforços, é preciso adaptar.


Dito isso, podemos afirmar que a colaboração é um ciclo contínuo entre a pessoa e o mundo que a rodeia. É uma retroalimentação constante, em que a pessoa contribui para a melhora do ambiente e ele, por sua vez, coopera para a constante melhoria pessoal (Figura 1).


Colaboração e a autorresponsabilidade de saber até onde irColaboração e a autorresponsabilidade de saber até onde ir

Figura 1: Ciclo Aprendizado Contínuo


A cada influência do ambiente, a cada novo aprendizado, a pessoa pode se adaptar e evoluir para ser melhor. Sendo melhor, essa pessoa contribui com a melhora da sociedade. A sociedade melhor, contribui para pessoas cada vez melhores. Um ciclo constante de evolução para o melhor.


Colaborar, colaborar, colaborar... Mas até onde ir?


Para manter a melhoria contínua e saudável, há um grande desafio que todos devem estar atentos: a demanda de colaboração gera uma sobrecarga enorme. Sob o desejo de ser colaborativo na infinidade de redes que se formam, há o risco de que as pessoas se ocupem de muitas atividades e comprometimentos (CROSS, 2021).


Nessa busca por fazer parte e colaborar – tanto pelo egocentrismo de ser visto, quanto para ter o mérito de ser uma pessoa colaborativa –, as demandas aumentam, junto com o estresse, a ansiedade e os prazos não cumpridos. Assim, para uma vida colaborativa mais saudável, é interessante selecionar o que é possível e o que, de fato, você necessita fazer parte. Quanto mais compromissos, mais demandas, logo, aumento do número de reuniões, pressão sobre os prazos de entregas e tarefas a completar. Esse processo tem sido denominado “burnout colaborativo” (CROSS, 2021).


O que pode ser feito?


Para as equipes se tornarem mais colaborativas é preciso ter atenção para:


Construir o senso de “nós”. Isso se faz principalmente mantendo um fluxo contínuo de informação de fácil acesso a todos os envolvidos;


Ter cuidado para não criar uma rede centrada da informação no controle de um ou poucos;


Superar alguns padrões de superestimar o poder dos líderes sobre os membros do grupo. Isso pode gerar apreensões e pouca autonomia para que os envolvidos realizem, logo limitar ou impedir a colaboração;


Ter claro as responsabilidades e papeis, assim cada pessoa sabe o que é esperado e igualmente sabe onde solicitar ajuda ou se conectar com alguém que irá contribuir para a realização do seu trabalho;


Ter consciência do contexto mais amplo dos efeitos da intervenção de cada pessoa ou equipe.


Dessa forma, para o comportamento colaborativo saudável e eficaz, se faz ainda mais necessário estar aberto ao processo de autoconhecimento contínuo. Em outras palavras, que esteja sempre revendo a si mesmo, o que pode ser melhorado pelo que recebeu nos feedbacks e pela observação do contexto e das experiências vividas.


Considerando esses aspectos, é possível tomar decisões assertivas para atender às demandas e se autorresponsabilizar pelas próprias decisões, sejam elas positivas e negativas, bem como aprender a dizer “não”. Ter claro que fechar processos é o que inspira e motiva a abrir novos. Assim, as pessoas poderão fazer parte de um (ou mais) grupo(s) em que possam atuar, de fato, colaborativamente. Com isso, produzindo de forma eficiente e criativa, e dando poder ao potencial da sabedoria coletiva.


REFERÊNCIAS


BALDINO, A. K. Ejercicios de Psicologia Sufi – Basados en las enseñanzas de Mawlana Sheikh Nazim, G. I. Gurdjieff y El Eneagrama. Huwa Ediciones, Argentina. 2017.

CARBONI, I.; Cross, R. When collaboration fails and how to fix it. MIT Sloan Management Review. Winter 2021.

GRANT, A. Think Again – The Power of Knowing what you don’t know. Viking. New York. 2021.

PERRY-SMITH, J. How Collaboration needs change from mind to marketplace. MIT Sloan Management Review. Winter 2022.

TART, T. C. States of Consciousness. Back inprint.com. USA. 2000.

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